Morre um artista de altas notas
Silvio Antônio Turco, regente, compositor, professor e ex-padre. Entre inúmeras obras de sua autoria, está o Hino de Cantagalo.
Nascido em Videira, Santa Catarina, no dia 29 de Setembro de 1931, e faleceu em Curitiba, em 02 de Julho de 2012, vítima de leucemia.
Primeiro filho de Sílvio Agostinho Turco e Ângela Comerlatto Turco, teve mais doze irmãos. Seu pai agricultor e líder de comunidade foi professor de Ensino Fundamental, desempenhou grande influência em sua criação artística e musical, pois era afeito também à flauta, às partituras e aos cânticos litúrgicos. Silvino, a princípio, estudou na comunidade de Anta Gorda. Em Videira ingressou no Seminário dos Salvatorianos. De 11 para 12 anos de idade ingressou no Seminário Divino Salvador, em São Paulo, com a intenção de tornar-se padre. Correspondia-se com o pai por cartas. Escreviam-se muito. Numa delas, decerto quando tinha 15 ou 16 anos avisava que já lhe vinha barba no rosto. Interpelava o pai no que poderia fazer. Silvio escreveu com sua peculiar ironia: “Será que lavar com água e sabão não resolve?”
Em 12 de fevereiro de 1951, a família saiu de Videira estabelecendo-se no município de Candói. Dois dias de viagem. Na altura do Covó, Mangueirinha, passaram a noite. Alguns dormindo encima e outros embaixo do caminhãozinho Ford. Na mesma migração vieram as famílias Brandeleiro, Turra e Mugnol. Na comunidade São Judas Tadeu ergueu-se uma pequena escola de madeira perto de um pinheiro, local que também servia de igreja, pois ali se fazia celebração dominical. Logo a capela definitiva foi construída em terreno doado por Sílvio. Em 1955, celebraram-se as Bodas de Prata de Sílvio e Ângela, Silvino tinha 24 anos e foi a primeira vez que visitava os pais. Seu irmão Clemente foi esperá-lo a cavalo no Marco Sessenta, como antigamente era chamada a entrada para a Colônia São Judas.
Sílvio Agostinho Turco (1906-1987) Pai de Silvio Antônio Turco. |
Primeira residência da família de Sílvio Turco na Colônia São Judas Tadeu |
Silvino foi ordenado sacerdote, em Guarapuava, no dia 08 de dezembro de 1959, sob a imposição das mãos episcopais de Dom Antônio Mazzarotto (1890-1980), de Ponta Grossa. O paraninfo de sua ordenação deveria ser Moacir J. Silvestre, que não pôde comparecer na ocasião. Acabou sendo então Nivaldo P. Krüger.
O recém ordenado padre caminhando para casa dos pais |
Homenagens da família ao novo sacerdote |
Uma semana depois, padre Silvino celebrou sua 1ª missa na capela de São Judas Tadeu.
Parentes e amigos dirigem-se à capela para a 1ª missa do Pe. Silvino |
Os dois religiosos em pé, seus pais Ângela e Sílvio e a irmãzinha Leonila. |
Trabalhou em Jundiaí, SP, e visitava os familiares de uma a duas vezes por ano. Na época, vinha com um fusquinha azul emprestado do Seminário. Em 17 de fevereiro de 1968, realizou o casamento de seu irmão Clemente Pio Turco e Dulcília da Silva.
Casamento de Clemente e Dulcília, ladeados por Pe. Silvino e Ir. Erinésia. |
O que Silvino ambicionava, contudo, era mesmo a música e o ensino. Ainda como padre católico compôs missas e variado repertório popular. Fundou corais em todos os lugares por onde trabalhou. Escreveu livros em parceria com outros padres, por exemplo, Pe. Adayr D. Cherubim. Por volta de 1970, dispensou-se das obrigações de sacerdote em São Paulo e veio residir em Guarapuava, quando a Fafig - Faculdade de Ciências e Letras de Guarapuava, hoje Unicentro - iniciava suas atividades.
Casou-se com Ignese de Carli e tiveram dois filhos. Colegas seus também foram se dispensando dos votos clericais e se estabelecendo também como educadores de ensino superior: João Moliani, Francisco Contini e outros. Lecionou psicologia na Instituição e demais escolas guarapuavanas. Fundou o coral que hoje tem o nome Unicanto, chegando a gravar alguns CDs, com canções diversificadas.
Dedicou outra porção de sua obra aos valores da terra, elogio ao homem simples do povo. Fez música encomiástica à cidade de Guarapuava, enaltecendo lagos, jardins, lagoas, serras, campos, folclore, gente. Orgulhava-se da região em seus versos redondos. Escreveu muitos hinos, inclusive ao 26º Grupo de Artilharia e Campanha.
Em 1983, a Secretaria de Educação de Cantagalo, na pessoa da professora Iracema da Silva, enviou-lhe um texto/poema para receber melodia. Alguém na cidade havia redigido algumas linhas para honrar o recém desmembrado município. Este deveria ser o hino de Cantagalo. O maestro leu, releu os versos e pouco conseguiu com o texto, visto que apresentava erros de concordância, de ortografia e sem nenhuma metrificação silábica, exigências imprescindíveis para o tom laudatório das ações de um povo em particular.
Decidiu ele mesmo escrever as estrofes em redondilha maior (verso de sete sílabas poéticas) e elaborar uma melodia que melhor representasse o caráter do povo cantagalense.
O texto descreve imediatamente o posicionamento geográfico da cidade, “Bem no alto da colina”, ou seja, a terra alta e chã entre os rios Cavernoso e Cantagalo, que ora começava pequenina, mas que apresentava a pujança necessária para inegável grandeza. Silvino Turco trata a cidade de Cantagalo como altaneira, isto é, aquela que se eleva acima das demais e que demonstra orgulho de seu posicionamento territorial como de sua vocação para a ascensão econômica, a lavoura e a madeira. Gente alegre, de vida inteira, plena, desfrutando das riquezas naturais e disposta a morrer por amor à terra e aos ideais. As palavras têm forte conteúdo ideológico. Entre outras inferências diz que Cantagalo deve ser defendido custe o que custar, cuja bandeira deve ser erguida o mais alto que puder. A palavra central que se pode perceber no texto é “levantar”. Promove-se, desta forma, um verdadeiro “levante” com todas as acepções possíveis, comparando a localização altiva, que não se humilha a ninguém, ao espírito sublime e libertário das famílias cantagalenses. O povo se levanta, quer a independência, a liberdade, não se rebaixa diante das frustrações e desenganos. A juventude herdeira disso tudo canta, não há violência, o amor prevalece acima de tudo.
O hino é de fácil memorização. É breve, harmonioso e sintético. Alunos, sobretudo, crianças do Ensino Fundamental, cantam-no a plenos pulmões, fazendo ecos ribombarem entre os estreitos edifícios escolares.
Hino de Cantagalo
Autor e compositor: Silvino Antonio Turco
Bem no alto da colina
Enfeitando a natureza
Começaste pequenina
Mas aspiras a grandeza
TUA BANDEIRA QUERO ERGUER
QUERO DAR-TE A VIDA INTEIRA
POR TI POSSO ATÉ MORRER
CANTAGALO
CANTAGALO
POR TI POSSO ATÉ MORRER
Nesta terra muita gente
Já viveu a vida inteira
Desfrutando alegremente
Da lavoura e da madeira
Hoje um povo se levanta
Quer viver na independência
E a juventude canta
Com amor e sem violência