OS BAMBAMBÃS DAS LETRAS

Parte II

  • Romance 

Caetés, Graciliano Ramos
Primeiro romance de Graciliano Ramos
“Os livros do Velho Graça sobrevivem a todas as modificações ocorridas no universo dos seus leitores e continuam sensibilizando e comovendo um número considerável de apreciadores exigentes da boa literatura.”
Leandro Konder, Jornal do Brasil
“A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer.”


Graciliano Ramos
Primeiro romance de Graciliano Ramos, Caetés foi originalmente publicado em 1933. João Valério, o personagem principal e também narrador, é o guarda-livros da casa comercial Teixeira & Irmão na cidade de Palmeira dos Índios. O enredo se desenvolve em dois planos: a paixão de João Valério por Luísa, mulher de Adrião, dono do armazém onde ele trabalha; e a tentativa de Valério escrever um romance histórico sobre os índios caetés. O cotidiano da classe média da pequena cidade nos é apresentado lentamente, em um texto conciso e sintético, marca de Graciliano em toda a sua produção. O autor destaca-se como o principal romancista da segunda fase do Modernismo brasileiro.


São Bernardo, Graciliano Ramos 

   A história de Paulo Honório, um homem simples que, movido por uma ambição sem limites, acaba se transformando em um grande fazendeiro do sertão de Alagoas e casa-se com Madalena para conseguir um herdeiro. Incapaz de entender a forma humanitária pela qual a mulher vê o mundo, ele tenta anulá-la com seu autoritarismo. Com este personagem, Graciliano Ramos traça o perfil da vida e do caráter de um homem rude e egoísta, do jogo de poder e do vazio da solidão, em que não há espaço nem para a amizade, nem para o amor.



Graciliano Ramos (1892-1953) nasceu em Quebrangulo, em Alagoas. O primeiro de dezesseis irmãos de uma família de classe média do sertão nordestino, o autor passou sua infância entre Buíque (PE) e Viçosa (AL). Cursou o ensino médio em Maceió e , em 1910, sua família se estabeleceu na cidade alagoana de Palmeira dos Índios. Em 1914, mudou-se para o Rio de Janeiro a fim de trabalhar nos jornais cariocas, mas, com a morte de três irmãos, vitimados pela peste bubônica, retornou no ano seguinte a Palmeira dos Índios. Graciliano casou-se e estabeleceu -se nessa cidade,  fazendo jornalismo e política, e chegou a ser prefeito de Palmeira do Índios entre 1928 e 1930. Em 1925, começou a escrever seu primeiro romance, Caetés - que viria a ser publicado em 1933. Graciliano Ramos destaca-se como a principal romancista da segunda fase do Modernismo brasileiro. Sua obra se tornou um importante vertente de nosso rico romance regionalista. Com um estilo seco, conciso e sintético, o autor deixa de lado o sentimentalismo a favor da objetividade e clareza. Seus textos prestigiam a mensagem direta, sem rodeios. Há livros de Graciliano traduzidos para o alemão, búlgaro, dinamarquês, espanhol, finlandês, flamengo, francês, húngaro, holandês, inglês, italiano, polonês, romeno, sueco, tcheco e turco.


Os Sertões, Euclides da Cunha


  O livro conta a história de Canudos, o mais sangrento conflito já ocorrido em solo brasileiro. De um lado, as expedições governamentais, fortemente armadas, de outro, a obstinação daqueles que contavam apenas com sua coragem e com a liderança carismática de um homem-Antônio Conselheiro.


Nota Preliminar
Escrito nos raros intervalos de folga de uma carreira fatigante, este livro, que a princípio se resumia à história da Campanha de Canudos, perdeu toda a atualidade, demorada a sua publicação em virtude de causas que temos por escusado apontar apontar. Demos-lhe, por isto, outra feição, tornando apenas variante de assunto geral o tema, a princípio dominante, que o sugeriu. Intentamos esboçar, palidamente embora, ante o olhar de futuros historiadores, os traços atuais mais expressivos das sub-raças sertanejas de Brasil. E fazemo-lo porque a sua instabilidade de complexos de fatores múltiplos e diversamente combinados, aliada às vicissitudes históricas e deplorável situação mental em que jazem, as tornam talvez efêmeras, destinadas a próximo desaparecimento ante as exigências crescentes da civilização e a concorrência material intensiva das correntes migratórias que começam a invadir profundamente a nossa terra. O jagunço destemeroso, o tabaréu ingênuo e o caipira simplório, serão em breve tipos relegados às tradições evanescentes, ou extintas. Primeiros efeitos de variados cruzamentos, destinavam-se talvez à formação dos princípios imediatos de uma grande raça. Faltou-lhes, porém, uma situação de parada ou equilíbrio, que lhes não permite a velocidade adquirida pela marcha dos povos neste século. Retardatários hoje, amanhã se extinguirão de todo. A civilização avançará nos sertões impelida por essa implacável ''força motriz da História'' que Gumplowicz, maior de que Hobbes, lobrigou, num lance genial, no esmagamento inevitável 
das raças fracas pelas raças fortes.  A campanha de Canudos tem por isto a significação inegável de um primeiro assalto, em luta talvez longa. Nem enfraquece o asserto o termo-la realizado nós, filhos do mesmo solo, porque, etnologicamente indefinidos, sem tradições nacionais uniformes, vivendo parasitariamente  à beira do Atlântico dos princípios civilizados elaborados na Europa, e armados pela indústria alemã - tivemos na ação um papel singular de mercenários inconscientes. Além disto, mal unidos àqueles extraordinários patrícios pelo solo em parte desconhecido, deles de todo nos separa uma coordenada histórica  - o tempo. 
   Aquela campanha lembra um reflexo para o passado.
   E foi, na significação integral da palavra, um crime.
   Denunciemo-lo.
   E tanto quanto permitir a firmeza do nosso espírito, façamos jus ao admirável conceito de Taine sobre o narrador sincero que encara a história como ela o merece: 
 
       ...''il s' irrite contre les demi-vérités qui sont des demi-fausstés, contre les auteurs qui n' altérent ni une date, ni une généalogie, mais dénaturent les sentiments et les moeurs, qui gardent le dessin des événements et en changent la couleur, qui copient les faits et défigurent l' âmê: il vent sentir en barbare, parmi les barbares, et, parmi les anciens, en ancies. ''  

São Paulo
                                                                                                          Euclides da Cunha



Morte na Praça,  Dalton Trevisan


    Entre nossos contistas, ninguém usa o recurso da elipse com mais propriedade que Dalton Trevisan, enxuto na linguagem sem ser indigente na substância. Não despoja a escrita até aquele limite suspicaz em que, sob denominações como ?linguagem telegráfica? e a pretexto duma apreensão mais viva e instantânea do subconsciente criador, levantou-se a proposta de uma oração sincopada, feita da ostensiva justaposição de segmentos. Disso se afasta sua prosa exatamente em virtude da unidade seqüente do texto, da fluência das imagens poéticas que o perpassam. Um estilo pessoal, reconhecível em qualquer dos tratamentos narrativos dados aos diversos conteúdos temáticos, e, no entanto, de história para história, o Autor varia a prismática, embora seja característica de sua maneira a concentração, em cada livro, de uma ordem particular de assunto. É que ele não esgota monocordiamente, mas numa escala de infinitas variações. Nesta obra, Morte na praça, as variações são em torno da Magra, como já tivemos versões multifárias do amor e mais alguns temas fundamentais e, de certo modo, eternos, dentro do relativo mutável. O contista paranaense (e sobretudo nacional, porque sabe, principalmente no tocante à transfiguração do fantástico ou macabro, criar com um olho no local e outro no universal) pratica uma arte semelhante ao espectro, no duplo sentido de fenômeno de decomposição da luz, isto é, como coisa física, e como imagem figurada da morte, como reflexo anímico, fundindo a ambos. Detém-se em registrar, por metáforas e breves referências descritivas, os diversos graus de intensidade psicológica e a multiplicidade de ângulos que o núcleo de cada problemática sugere, para chegar, ao fim de todas as situações criadas, à instauração duma atmosfera simbólica e, ao mesmo tempo, sensorial, quase tátil, porque seu fantástico é muito pouco abstrato. Mestre do trágico grotesco, Dalton Trevisan o é também dos dramas amorosos e da morte, em sua dimensão cotidiana. Excetuem-se dois ou três contos e Morte na praça exprime o senso de humor e o imprevisto das soluções, com que o leitor se vê, no final de cada peça, flutuar numa sensação de vazio, de ilogismo, que só não leva ao estado do absurdo porque o desfecho foi sutilmente insinuado, ou derivou das contingências mais prosaicas. Nenhum traço de sentimentalismo, de apelo à emoção individual, de fuga pelo sortilégio ancestral ou cósmico, de vagas implicações metafísicas. O contista dessacraliza a morte, incorpora-a ao nosso mundo diário, retira-lhe o nimbo mítico, ritualístico. Como em relação a outros temas, o insuperável estilista capta-a nas imagens fragmentárias da vida. Da morte desmistificada, ao nível dos interesses e mesquinhez das humanas paixões, resulta o efeito entre trágico e ridículo que é um desafio impiedoso a todos nós. E nenhuma figura da escrita literária mostra-se mais adequada para isso do que a elipse, com a sua carga potencial de sugestão, a significar o máximo com um mínimo essencial de palavras. E, muitas vezes, só com as pausas, as reticências, os silêncios.
                                                                                     

    No dia 14 de junho de 1925, nasce Dalton Trevisan. Em Curitiba, é claro. A mesma Curitiba em que cresce e ganha a fama de “vampiro”. A mesma Curitiba que eternizou em tantos contos — e que, justamente por isso, tem com ele um débito eterno. A mesma Curitiba cheia de mistérios. O próprio escritor é um deles: para se conceber um histórico de Trevisan, é preciso a habilidade das cerzideiras, cosendo retalhos aqui e ali, em uma ou outra reportagem, nas antigas e raras entrevistas. Formado em Direito, exerceu a função de repórter policial e crítico de cinema. Um acidente com o forno de uma olaria, em 1945, quase lhe tira a vida. Trevisan foi internado com fratura de crânio, mas se recuperou para editar, a partir do ano seguinte, a revista Joaquim, que duraria até 1949. Em 1950, o escritor vai para a Europa. Casa-se em 1953, tornando-se pai de duas filhas. Escondeu-se no anonimato para vencer um concurso de contos no Paraná, em 1968. Gosta de filmes de banque-bangue e de passear pelas ruas da capital paranaense. Já teve livros traduzidos para diversos idiomas, como o inglês, o espanhol e o italiano. Na Hungria, alguns de seus contos inspiraram uma série de TV. No Brasil, alguns textos foram adaptados para o cinema e a TV. Seus livros são editados pela Record desde 1978. Durante anos, seus livros ganharam identidade visual criada pelo artista gráfico Poty. Depois, a parceria mudou: figuras em nanquim do dadaísta alemão George Grosz, resgatadas da Berlim do tempo da república Weimar, dão o tom apocalíptico que os escritos de Trevisan foram assumindo.



 Sagarana, João Guimarães Rosa


  Guimarães Rosa é, por seus experimentos linguísticos, sua técnica e sua inventividade, o mais completo renovador de nossa ficção. Segundo Alceu Amoroso Lima, trata-se de ''autor absolutamente inqualificável, a não ser nas categorias do gênio, isto é dos grandes isolados''.

 Ao aparecer afetivamente como escritor em 1946, com os contos de Sagarana, levou Graciliano Ramos a escrever sobre ele, dizendo-se entusiasmado com os contos ''O burrinho pedrês'', ''Duelo'', ''Corpo fechado'' e sobretudo '' A hora e a vez de Augusto Matraga'', ''que me faz desejar ver Rosa dedicar-se ao romance''.

Guimarães Rosa dizia que a inspiração era um estado de transe: ''só escrevo atuado''. À filha e também escritora Vilma, confessou: ''Às vezes visualizo, mesmo dormindo, uma estória completa. Acordo e vou escrevê-la''. Levou sete meses para dar forma a Sagarana, ''sete meses de exaltação, de deslumbramento''.
Apresentando a paisagem e o homem de sua terra numa linguagem já então exclusiva, por meio de contos como 'O burrinho pedrês', 'Duelo', 'A hora e a vez de Augusto Matraga', Guimarães Rosa fez deste livro a semente de uma obra cujo sentido e alcance ainda estão por ser inteiramente decifrados.



Rosa,  João Guimarães 
Nasceu em 27 de junho de 1908, em Cordisburgo, MG. Cursou o secundário e a faculdade de Medicina em Belo Horizonte. Graduado, trabalhou em várias cidades do interior mineiro, sempre demonstrando profundo interesse pela natureza, por bichos e plantas, pelos sertanejos e pelo estudo de línguas (estudou sozinho alemão e russo). Em 1934, iniciou carreira diplomática, prestando concurso para o Ministério do Exterior - serviu na Alemanha durante a II Guerra Mundial e posteriormente na Colômbia e na França. Em 1958, foi nomeado ministro; é dessa época o reconhecimento da genialidade do escritor, em consequência da publicação de Corpo de baile e Grande sertão: veredas, ambos de 1956. Em 16 de novembro de 1967, tomou posse na Academia Brasileira de Letras; três dias depois, em 19 de novembro, morreu no Rio de Janeiro. 




Vidas Secas, Graciliano Ramos 

 
Vidas secas, lançado originalmente em 1938, é o romance em que mestre Graciliano — tão meticuloso que chegava a comparecer à gráfica no momento em que o livro entrava no prelo, para checar se a revisão não haveria interferido em seu texto — alcança o máximo da expressão que vinha buscando em sua prosa. O que impulsiona os personagens é a seca, áspera e cruel, e paradoxalmente a ligação telúrica, afetiva, que expõe naqueles seres em retirada, à procura de meios de sobrevivência e um futuro.

Apesar desse sentimento de transbordante solidariedade e compaixão com que a narrativa acompanha a miúda saga do vaqueiro Fabiano e sua gente, o autor contou: “Procurei auscultar a alma do ser rude e quase primitivo que mora na zona mais recuada do sertão... os meus personagens são quase selvagens... pesquisa que os escritores regionalistas não fazem e nem mesmo podem fazer ...porque comumente não são familiares com o ambiente que descrevem...Fiz o livrinho sem paisagens, sem diálogos. E sem amor. A minha gente, quase muda, vive numa casa velha de fazenda. As pessoas adultas, preocupadas com o estômago, não tem tempo de abraçar-se. Até a cachorra [Baleia] é uma criatura decente, porque na vizinhança não existem galãs caninos”.

Vidas secas é o livro em que Graciliano, visto como anti poético e anti sonhador por excelência, consegue atingir, com o rigor do texto que tanto prezava, um estado maior de poesia.




 O Cortiço, Aluísio de Azevedo 



O Cortiço - Aluízio Azevedo

Aluísio Tancredo Belo Gonçalves de Azevedo nasceu em São Luis do Maranhão em 14 de abril de 1857, e faleceu na Argentina, mais precisamente em Buenos Aires, no dia 21 de janeiro de 1913.

Esta obra é um romance naturalista, no qual todos os personagens se entrelaçam e repercutem uns nos outros, criando, assim, uma narrativa paralelística e binária.

Tem como tema a crítica ao capitalismo selvagem, e que mostra a ambição e a exploração do homem pelo homem.
- See more at: http://www.escala.com.br/Livro-O-Cortico-2/p#sthash.jPHu4ABg.dpuf
O Cortiço - Aluízio Azevedo

Aluísio Tancredo Belo Gonçalves de Azevedo nasceu em São Luis do Maranhão em 14 de abril de 1857, e faleceu na Argentina, mais precisamente em Buenos Aires, no dia 21 de janeiro de 1913.

Esta obra é um romance naturalista, no qual todos os personagens se entrelaçam e repercutem uns nos outros, criando, assim, uma narrativa paralelística e binária.

Tem como tema a crítica ao capitalismo selvagem, e que mostra a ambição e a exploração do homem pelo homem.
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   O cortiço é um retrato implacável da sordidez e dos vícios humanos na obra-prima do naturalismo. Tomando como ponto de partida a cidade do Rio de Janeiro e a demolição de seus cortiços, passando pelas polêmicas entre infeccionistas e contagionistas em torno da transmissão da febre amarela e pela resistência negra a vacina anti variolica. Aluísio Azevedo mostra tudo isso por um painel de ambientes, sons, cores, cheiros e formas.


 Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo nasceu em São Luís do Maranhão, em 14 de abril de 1857, e faleceu em Buenos Aires, Argentina, em 21 de janeiro de 1913. O Cortiço é um romance social naturalista, em que todas as existências se entrelaçam e repercutem umas nas outras, criando uma narrativa paralelística e binária. Tem como tema uma crítica ao capitalismo selvagem, pois mostra a ambição e a exploração do homem pelo próprio homem.    




Minhas Tudo, Mario Prata


  Sabe aquelas coisas simples, aquelas que fazem parte do seu dia a dia, dos seus bons e péssimos momentos, e quando você percebe já te acompanham há anos, por uma vida mesmo? Pois é. Com seu já característico estilo bem-humorado, certas vezes irônico, Mario Prata cede o lugar principal de seus textos a eles: a carteira, o guarda-chuva, o carimbo, o joelho, o ladrão, a fila...Mas mais do que um inventário pessoal, o autor apresenta ao leitor crônicas de um cotidiano muito mais próximo de cada um de nós do que se pode imaginar. Afinal, vai dizer que você nunca ficou um bom tempo para regular a temperatura do chuveiro, ou parou para descobrir as besteiras que até hoje guarda na carteira e não sabe por que, ou ainda ficou tentando, igual bobo, mil técnicas para fazer o soluço passar?



Mario Prata
Mineiro de Uberaba, Mario Prata morou em Lins, São Paulo, Lisboa e, nos últimos dez anos, fincou pé em Florianópolis. Escreve para teatro (Cordão umbilical, Besame mucho), cinema (O casamento de Romeu e Julieta), televisão (Estúpido cupido, Helena), jornais e revistas. Entre seus best-sellers estão Diário de um magro, Minhas vidas passadas (a limpo), Minhas mulheres e meus homens, Purgatório, Cem melhores crônicas, Sete de paus e Os viúvos. Com livros publicados e peças montadas em diversos países, ganhou vários prêmios no Brasil e no exterior. Atualmente, dedica-se à literatura policial, pesquisando e escrevendo a respeito. E criando seus próximos romances com o detetive Ugo Fioravanti Neto.




Jardim de Inverno, Zélia Gattai


  Aconteceu mesmo ocorrer-me um dia a ideia de comparar o nosso exílio a um cativeiro, imenso e abafado jardim de inverno. Recordei-me até, num momento de maior nostalgia, de um verso que eu declamava em criança: ''A ave presa assim / é como a flor que se estiola longe do fresco jardim...'' E por que essa tola comparação ? O exílio seria mesmo um cativeiro ? Seríamos por acaso flores que se estiolavam longe do fresco jardim ? Achei graça da maluquice! Voltar para nossa país seria a melhor coisa do mundo, claro que seria. Mas, naquela ocasião, o Brasil não era um fresco jardim. Longe disso.






Zélia Gattai Lançar-se como escritora aos 63 anos não é tarefa para qualquer um. Ainda mais quando se é esposa de um dos maiores escritores brasileiros contemporâneos. No entanto, Zélia Gattai ultrapassou todos os obstáculos e consagrou-se como uma das melhores representantes da literatura brasileira. Seu mais novo livro, Città di Roma, narra a vinda das famílias Da Col e Gattai da longínqua Itália para o Brasil no início do século XX, no navio que dá nome à obra. Os pais de Zélia, Angelina Da Col e Ernesto Gattai, apesar de terem vindo para o Brasil no mesmo navio, só se conheceram na cidade de São Paulo, onde fixaram residência. Todo o difícil trajeto de navio e a adaptação de sua família no novo país são contados com esmero por Zélia Gattai, a caçula da família, mostrando o período anterior ao seu primeiro romance, Anarquistas, Graças a Deus. Anarquistas, graças a Deus narra a saga da família Gattai. Filha de imigrantes italianos que chegaram a São Paulo no começo do século, Zélia conta histórias da sua família, composta por anarquistas que pregavam a fundação de uma sociedade sem leis, sem religião ou propriedade privada, onde mulheres e homens tivessem os mesmos direitos e deveres. Como cenário, o cotidiano de uma cidade em desenvolvimento. Zélia Gattai nasceu no dia 2 de julho de 1916. Aos vinte anos, casa-se em São Paulo com o intelectual e militante do Partido Comunista, Aldo Veiga, com quem teve seu primeiro filho, João. O casamento aproximou-a de renomados intelectuais, como Oswald de Andrade, Lasar Segall, Tarsila do Amaral, Mário de Andrade, Rubem Braga e Vinicius de Moraes. Em 1938, seu pai, Ernesto Gattai, é preso pela Polícia Política e Social de São Paulo, durante o Estado Novo, o que fez Zélia se tornar cada vez mais atuante na vida política. Em 1945, separa-se de seu primeiro marido. Neste mesmo ano, conhece Jorge Amado durante o I Congresso de Escritores - certame cuja declaração final exige o retorno do País à legalidade democrática. Ainda em 45 e após um período de trabalho, militância e flerte, Jorge e Zélia decidem viver juntos. No ano seguinte, Jorge é eleito à Assembleia Constituinte pelo Partido Comunista Brasileiro, o que força a mudança do casal de Salvador para o Rio de Janeiro. Em 1947, nasce o primeiro filho, João Jorge. E em 1948, Jorge e Zélia partem para o exílio que duraria cinco anos. Passam os dois primeiros anos na França - de onde foram expulsos - e seguem para a Tchecoslováquia. Paloma, segunda filha de Zélia, nasce em Praga. Foram anos de intensa participação na vida cultural europeia, ao lado de personalidades como Pablo Neruda, Nicolás Guillén, Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Paul Éluard, Picasso, Frédéric Curie. O ano de 1952 marca a volta ao Brasil de Zélia e família. No início da década de 1960, o casal muda-se para Salvador, Bahia, bairro do Rio Vermelho. Em 1978, Jorge e Zélia, após 33 anos de vida em comum, oficializam a união. Durante todo esse tempo de vida em comum, o casal foi colecionando amigos em várias partes do mundo. A casa dos Amado, onde quer que estivessem, era, irremediavelmente, um centro de encontro para bate-papo ou para uma prosa mais séria. Seja qual fosse o motivo, Zélia sempre se destacava pelas inúmeras histórias que contava. Até que em 1979, incentivada pelo marido, resolve transformar em romance as histórias da família e que tanto deliciava os que privavam da convivência com o casal. Nascia Anarquistas, graças a Deus. Daí para frente, Zélia não parou. Em 1982, com a mesma leveza de quem conta uma história para uma amiga, Zélia publica Um chapéu para viagem, onde conta histórias sobre o final da Segunda Guerra Mundial, a queda da ditadura Vargas, a anistia dos presos políticos, a redemocratização do país. Senhora Dona do Baile, o terceiro livro, tem como cenário dois mundos separados por uma cortina de ferro e apresenta a seus leitores algumas das personagens mais importantes da História deste século. Seu quarto livro, Jardi. 




Cães da Província, Luiz Antonio Assis Brasil 


 Em pleno séc. XIX, a genialidade de um dramaturgo perturba a ordem da mediocridade provinciana com rasgos da mais delirante lucidez. Desafiando os limites entre a ficção e o documento, Luiz Antonio de Assis Brasil revive, em Cães da Província, a alma deste personagem antológico que foi Qorp-Santo, afirmando-se, mais uma vez, com a energia e a maturidade de um grande romancista.


 
Nasceu em Porto Alegre-RS em 1945, onde reside. É romancista, ensaísta, cronista, músico e novelista. É Doutor em Letras, com Pós-doutorado em Literatura Açoriana, pela Universidade dos Açores -Portugal. Autor de romances, cujo cenário é, em parte, o Rio Grande do Sul, Assis Brasil divide seu tempo entre a escrita e as docências no Programa de Mestrado e Doutorado em Letras da PUC-RS e na Oficina de Criação Literária da mesma universidade, criada em 1985, e que já revelou nomes como Amílcar Bettega, Letícia Wierzchowski, Cíntia Moscovich, Daniel Pellizzari, Michel Laub, Monique Revillion e Daniel Galera. Autor de vasta obra, é um dos escritores que mais publicam no estado e no Brasil. Seus romances focalizam as origens do povo rio-grandense. Como características, procura desmistificar os heróis da nossa história revelando suas falhas e fraquezas mescladas com momentos de grandeza e, geralmente, tendo a história do Rio Grande do Sul como pano de fundo. Estréia em 1976 com o romance Um quarto de légua em quadro. 1978 é o ano de lançamento de A prole do corvo. Em 1981 publica Bacia das almas. No ano seguinte, Manhã transfigurada. Em 1985 lança aquele que, segundo o autor, é o seu livro com maior carga emocional, As virtudes da casa. Em 1986 sai mais uma obra, O homem amoroso, novela com forte acento autobiográfico. Cães da província, em 1987, retoma o ciclo histórico, adotando Assis Brasil o dramaturgo José Joaquim de Campos Leão, o Qorpo-Santo, como personagem e evocando os tenebrosos crimes da Rua do Arvoredo. O romance dá o título de Doutor em Letras ao autor e faz jus ao Prêmio Literário Nacional, do Instituto Nacional do Livro. Videira de cristal, que recria a saga dos Muckers, é lançada em 1990. Nova experiência é o romance em três volumes Um castelo no pampa, que se divide em Perversas famílias (1992) vencedor do Prêmio Pégaso de Literatura, da Colômbia, Pedra da memória (1993) e Os senhores do século (1994). Concerto campestre, Breviário das terras do Brasil e Anais da província-boi saem em 1997. Em 2001 publica O pintor de retratos, que conquista o Prêmio Machado de Assis, da Fundação Biblioteca Nacional. Em 2003 lança o livro A margem imóvel do rio, contemplado com três prêmios: Prêmio Portugal Telecom de Literatura Brasileira, Prêmio Jabuti (finalista menção honrosa) e Prêmio Açorianos de Literatura. Ainda em 2003 acontecem três publicações no exterior: O pintor de retratos sai em Portugal pela Editora Ambar, do Porto; O homem amoroso é publicado pela Editora l´Harmattan, de Paris (l´Homme Amoureux), e na Espanha, pela Editora Akal, de Madrid, é lançada a tradução de Concerto campestre (Concierto Campestre). Também em 2003 publica um livro de ensaios literários pela Editora Salamandra, de Lisboa: Escritos açorianos: tópicos acerca da narrativa açoriana pós-25 de abril. Em 2005 sai na França, pela editora Les Temps des Cérises, Breviário das terras do Brasil (Bréviaire des Terres Du Brésil.). Música perdida é lançado em 2006, o qual vence, em 2007, a Copa de Literatura Brasileira e recebe indicação ao Jabuti.  Em 2008 publica Ensaios íntimos e imperfeitos, uma coleção de pequenos textos de caráter poético e ensaístico. Segue com sua coluna quinzenal no jornal Zero Hora, de Porto Alegre. Atualmente exerce o cargo de Secretário de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul.


Seminário dos Ratos,  Lygia Fagundes Telles

   Em seminário dos ratos, o leitor é convidado para a mais fascinante das travessias: distinções rígidas entre realidade e fantasia, ação intencional e impulso inconsciente, cultura e natureza - tudo, enfim, é dissolvido num horizonte onde formigas podem reconstituir a ossada de um anão; um amor malogrado é preservado pela memória para um futuro incerto; a miséria de uma família de favelados parece esquecida diante de um programa de televisão; ratos não tomam conta apenas de um seminário mas se concentram para deliberar, talvez, sobre o país...  




Quarta filha do casal Durval de Azevedo Fagundes e Maria do Rosário Silva Jardim de Moura, nasce na capital paulista, em 19 de abril de 1923, Lygia de Azevedo Fagundes, na rua Barão de Tatuí. Seu pai, advogado, exerceu os cargos de delegado e promotor público em diversas cidades do interior paulista (Sertãozinho, Apiaí, Descalvado, Areias e Itatinga), razão porque a escritora passa seus primeiros anos da infância mudando-se constantemente. Acostuma-se a ouvir histórias contadas pelas pajens e por outras crianças. Em pouco tempo, começa a criar seus próprios contos e, em 1931, já alfabetizada, escreve nas últimas páginas de seus cadernos escolares as histórias que irá contar nas rodas domésticas. Como ocorreu com todos nós, as primeiras narrativas que ouviu falavam de temas aterrorizantes, com mulas-sem-cabeça, lobisomens e tempestades.

Seu pai gostava de frequentar casas de jogos, levando Lygia consigo "para dar sorte". Diz a escritora: "Na roleta, gostava de jogar no verde. Eu, que jogo na palavra, sempre preferi o verde, ele está em toda a minha ficção. É a cor da esperança, que aprendi com meu pai."
Em 1936 seus pais se separam, mas não se desquitam. Porão e sobrado é o primeiro livro de contos publicado pela autora, em 138, com a edição paga por seu pai. Assina apenas como Lygia Fagundes.
No ano seguinte termina o curso fundamental no Instituto de Educação Caetano de Campos, na capital paulista. Ingressa, em 1940, na Escola Superior de Educação Física, naquela cidade. Ao mesmo tempo, frequenta o curso pré- jurídico, preparatório para a Faculdade de Direito do Largo do São Francisco.
Inicia o curso de Direito em 1941, frequentando as rodas literárias que se reuniam em restaurantes, cafés e livrarias próximas à faculdade. Ali conhece Mário e Oswald de Andrade, Paulo Emílio Sales Gomes, entre outros, e integra a Academia de Letras da Faculdade e colabora com os jornais Arcádia e A Balança. Para se sustentar, trabalha como assistente do Departamento Agrícola do Estado de São Paulo. Nesse ano conclui o curso de Educação Física. Praia viva, sua segunda coletânea de contos, é editada em 1944 pela Martins, de São Paulo. O ano de 1945 marca o ano de falecimento de seu pai. Atenta aos acontecimentos políticos, Lygia participa, com colegas da Faculdade, de uma passeata contra o Estado Novo.
Terminado o curso de Direito, em 1946, só três anos depois a escritora publica, pela editora Mérito, seu terceiro livro de contos, O cacto vermelho. O volume recebe o Prêmio Afonso Arinos, da Academia Brasileira de Letras. Casa-se com o jurista Goffredo da Silva Telles Jr., seu professor na Faculdade de Direito que, na ocasião,1950, era deputado federal. Muda-se, em virtude desse fato, para o Rio de Janeiro, onde funcionava a Câmara Federal. Com seu retorno à capital paulista, em 1952, começa a escrever seu primeiro romance, Ciranda de pedra. Na fazenda Santo Antônio, em Araras - SP, de propriedade da avó de seu marido, para onde viaja constantemente, escreve várias partes desse romance. Essa fazenda ficou famosa na década de 20, pois lá reuniam-se os escritores e artistas que participaram do movimento modernista, tais como Mário e Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Anita Mafaldi e Heitor Villa-Lobos.
Maria do Rosário, sua mãe, falece em 1953 e, no ano seguinte, nasce seu único filho, Goffredo da Silva Telles Neto. As Edições O Cruzeiro, do Rio de Janeiro, lançam Ciranda de pedra.
Seu livro de contos, Histórias do desencontro, é publicado pela editora José Olympio, do Rio de Janeiro, e é premiado pelo Instituto Nacional do Livro, em 1958. Em 1960 separa-se de seu marido Goffredo e, no ano seguinte, começa a trabalhar como procuradora do Instituto de Previdência do Estado de São Paulo. Dois anos depois lança, pela editora Martins, de São Paulo, seu segundo romance, Verão no aquário. Passa a viver com Paulo Emílio Salles Gomes e começa a escrever o romance As meninas, inspirado no momento político por que passa o país. Em 1964 e 1965 são publicados seus livros de contos Histórias escolhidas e O jardim selvagem, respectivamente, pela editora Martins. A convite do cineasta Paulo César Sarraceni e em parceria com Paulo Emílio Salles Gomes, em 1967, faz a adaptação para o cinema do romance D. Casmurro, de Machado de Assis. Esse trabalho foi publicado, em 1993, pela editora Siciliano, de São Paulo, sob o título de Capitu. Seu livro de contos Antes do baile, publicado pela Bloch, do Rio de Janeiro, em 1970, recebe o Grande Prêmio Internacional Feminino para Estrangeiros, na França. O lançamento, em 1973, pela José Olympio, de seu terceiro romance, As meninas, é um sucesso. A escritora arrebata todos os prêmios literários de importância no país: o Coelho Neto, da Academia Brasileira de Letras, o Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro e o de "Ficção" da Associação Paulista de Críticos de Arte.
Seminário de ratos, contos, é publicado em 1977 pela José Olympio e recebe o prêmio da categoria Pen Club do Brasil. Nesse ano participa da coletânea Missa do Galo: variações sobre o mesmo tema, livro organizado por Os man Lins a partir do conto clássico de Machado de Assis. Integra o corpo de jurados do Concurso Unibanco de Literatura, ao lado dos escritores e críticos literários Otto Lara Resende, Ignácio de Loyola Brandão, João Antônio, Antônio Houaiss e Geraldo Galvão Ferraz. Em setembro desse ano, falece Paulo Emílio Salles Gomes. A escritora assume, face ao ocorrido, a presidência da Cinemateca Brasileira, que Paulo Emílio ajudara a fundar. Em 1978 a editora Cultura, de São Paulo, lança Filhos pródigos. Essa coletânea de contos seria republicada a partir de 1991 sob o título A estrutura da bolha de sabão. A TV Globo leva ao ar um Caso Especial baseado no conto  "O jardim selvagem". Sua editora no período de 1980 até 1997, a Nova Fronteira, do Rio de Janeiro publica A disciplina do amor. No ano seguinte lança Mistérios, uma coletânea de contos fantásticos. A TV Globo transmite a telenovela Ciranda de pedra, adaptada de seu romance. Em 1982 é eleita para a cadeira 28 da Academia Paulista de Letras e, em 1985, por 32 votos a 7, é eleita, em 24 de outubro, para ocupar a cadeira 16 da Academia Brasileira de Letras, fundada por Gregório de Mattos, na vaga deixada por Pedro Calmon. Sua posse só ocorre em 12 de maio de 1987. Ainda em 1985 é agraciada com a medalha da Ordem do Rio Branco. 1989 é o ano de lançamento de seu romance As horas nuas. Recebe a Comenda Portuguesa Dom Infante Santo. Em 1990 seu filho, Goffredo Neto, realiza o documentário Narrarte, sobre a vida e a obra da mãe. Em 1991 aposenta-se como funcionária pública. A Rede Globo de Televisão apresenta, em 1993, dentro da série Retratos de mulher, a adaptação da própria escritora do seu conto "O moço do saxofone", que faz parte do livro Antes do baile verde, num episódio denominado "Era uma vez Valdete". Participa da Feira o Livro de Frankfurt, na Alemanha, em 1994, e lança, no ano seguinte, um novo livro de contos, A noite escura e mais eu, que ganhou os prêmios de Melhor livro de contos, concedido pela Biblioteca Nacional; Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro e Prêmio APLUB de Literatura. Em 1996 estreia o filme As meninas, de Emiliano Ribeiro, baseado em romance homônimo de Lygia. Em 1997 participa da série O escritor por ele mesmo, do Instituto Moreira Salles. A editora Rocco adquire os direitos de publicação de toda a obra passada e futura da escritora. Em 1998, a convite do governo francês, participa do Salão do Livro da França. Seu livro Invenção e Memória foi agraciado com o Prêmio Jabuti, na categoria ficção, em 2001. Recebe, também, o "Golfinho de Ouro" e o Grande Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte.
Agraciada, em março de 2001, com o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade de Brasília (UnB).

 





















uísio Tancredo Belo Gonçalves de Azevedo nasceu em São Luis do Maranhão em 14 de abril de 1857, e faleceu na Argentina, mais precisamente em Buenos Aires, no dia 21 de janeiro de 1913.

Esta obra é um romance naturalista, no qual todos os personagens se entrelaçam e repercutem uns nos outros, criando, assim, uma narrativa paralelística e binária.

Tem como tema a crítica ao capitalismo selvagem, e que mostra a ambição e a exploração do homem pelo homem. - See more at: http://www.escala.com.br/Livro-O-Cortico-2/p#sthash.jPHu4ABg.dpu